Danone x soja do Brasil: em nota, governo ‘exige’ justiça e equilíbrio

O longo comunicado afirma que o Brasil exige ser tratado com a mesma “justiça e equilíbrio”


O Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), divulgou nesta terça-feira, 29, um posicionamento sobre as recentes declarações e ações de empresas do segmento alimentar da Europa, sendo a Danone a mais expoente, a respeito da soja brasileira.

O longo comunicado afirma que o Brasil exige ser tratado com a mesma “justiça e equilíbrio” que pautam as relações comerciais internacionais, e classifica como “posturas intempestivas e descabidas” as ações anunciadas pelas empresas europeias, ressaltando que as mesmas têm forte atividade no mercado brasileiro.

O governo diz ainda que considera as normas da EUDR (regulamento da União Europeia anti-desmatamento) “arbitrárias, unilaterais e punitivas”, pois elas desconsideram particularidades dos países produtores e impõem exigências com impactos significativos sobre os custos e a participação de pequenos produtores no mercado europeu.

Na última semana, o diretor-financeiro da Danone afirmou que a empresa parou de comprar soja do Brasil e agora compra de países da Ásia, por conta da EUDR, que exige que as empresas provem que não estão comprando commodities de áreas desmatadas. “Nós realmente temos um rastreamento muito completo, então garantimos que levamos apenas ingredientes sustentáveis ​​do nosso lado”, disse o diretor, sem detalhar sobre quando especificamente a empresa fez a mudança e de quais países da Ásia ela agora compra.

Empresas da Nestlé à Unilever têm se preparado para atender à nova regulamentação, antes de enfrentarem multas potenciais de até 20% do faturamento, no caso do descumprimento da legislação. A nova regulamentação está programada para entrar em vigor em 30 de dezembro.

Na nota, o governo destaca que as novas diretrizes do bloco dificultam o acesso ao mercado europeu de produtos brasileiros, da América Latina e de outras origens, incluindo a Ásia, “ao invés de apoiar uma transição justa e sustentável”.

O texto segue dizendo que as restrições do bloco são “desproporcionais” e que a posição do país é ser firme para não aceitar regulamentações que ignorem os avanços ambientais e sociais.

“A agricultura brasileira é um pilar da sustentabilidade global e já alcança altos padrões, refletindo nosso compromisso com um comércio justo e ambientalmente responsável.

Os números da agropecuária brasileira vêm sendo avaliados sob aspectos de sustentabilidade em fóruns internacionais e comparados com os demais países, demonstram um descolamento positivo em termos de ganhos de produtividade e redução de impactos negativos”.

Produtores também reagiram

A Aprosoja Brasil, entidade que representa agricultores do maior produtor e exportador global de soja, citou nesta terça-feira “motivos” para produtores rurais brasileiros boicotarem a Danone.

Segundo a associação, “a afirmação de que o Brasil lidera a destruição de floresta tropical no mundo é fala de quem desconhece a dinâmica das florestas no Brasil”.

“Pior ainda, está discriminando o único produtor de soja no mundo que preserva o meio ambiente e os recursos hídricos dentro das suas propriedades”, disse a entidade, citando a legislação brasileira, que determina que o produtor rural precisa preservar de 20% a 80% de Reserva Legal, dependendo do bioma, e mais as Áreas de Preservação Permanentes (beira de rio, topo de morro e entorno de nascentes).

“Comparativamente, os produtores franceses não preservam quase nada”, disse a Aprosoja Brasil.

A Danone Brasil emitiu comunicado afirmando que a empresa continua comprando soja brasileira e que a informação veiculada não procede. O documento não esclarece sobre importação da soja para uso em unidades na Europa. Questionada se o comunicado vale para a Danone fora do país, a filial brasileira reforçou que o posicionamento é sobre a atuação no Brasil.

Confira a nota da Danone Brasil na íntegra:

“A Danone está há mais de 50 anos no Brasil e investe anualmente em ações que priorizam o apoio e o desenvolvimento de grandes a pequenos produtores locais, incentivando práticas mais sustentáveis em todos os elos da nossa cadeia de fornecimento.

Podemos confirmar que a informação veiculada não procede. A Danone continua comprando soja brasileira em conformidade com as regulamentações locais e internacionais.

A soja brasileira é um insumo essencial na cadeia de fornecimento da companhia no Brasil e continua sendo utilizada, sendo a aquisição da maior parte desse volume intermediada pela Central de Compras da Danone, incluindo processos que verificam sua origem de áreas não desmatadas e rastreabilidade."

*Com informações de Reuters

Fonte: Dinheiro Rural


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