Dólar sobe e vai a R$ 6,18, mesmo com novo leilão do BC; mercado reage à ata do Copom e piora fiscal

No dia anterior, a moeda norte-americana bateu cotação recorde, aos R$ 6,0942. BC tentou conter disparada, que ocorre em meio à percepção negativa do mercado sobre pacote de corte de gastos proposto pelo governo.


O dólar opera em alta nesta terça-feira (17), na casa dos R$ 6,18. Na máxima do dia, a moeda norte-americana chegou a R$ 6,1880.


A valorização ocorre porque pioraram as expectativas do mercado financeiro com o desenho do pacote de cortes de gastos enviado pelo governo federal ao Congresso Nacional. A ideia é economizar R$ 70 bilhões nos próximos dois anos, e um total de R$ 375 bilhões até 2030.

O governo precisa reduzir os gastos porque tem uma meta de zerar o déficit públicos pelos próximos dois anos — ou seja, gastar o mesmo tanto que arrecada em 2024 e 2025.

Mas os investidores já não acreditam que as medidas tenham o potencial para conter o avanço da dívida pública no longo prazo. Havia a expectativa de que o governo mexesse em gastos que tendem a subir em velocidade acelerada — como a Previdência, benefícios reajustados pelo salário mínimo e os pisos de investimento em saúde e educação —, e que podem anular esse esforço em pouco tempo.


O texto do pacote proposto pelo governo pode ser analisado ainda nesta semana pela Câmara dos Deputados.

Além disso, a alta do dólar ocorre também após a divulgação da ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central do Brasil (BC), que avaliou justamente a disparada da moeda nas últimas semanas como um dos fatores para aumentar os juros brasileiros.

Nesta terça, o BC chegou a intervir novamente no mercado de câmbio para reduzir a pressão do dólar sobre o real. A intervenção fez a moeda estrangeira desacelerar um pouco por volta das 9h40, mas o movimento de forte alta retomou em seguida.

Apesar do cenário ruim, o Ibovespa, principal índice acionário da bolsa de valores brasileira, a B3, opera em alta.

Aumento da Selic, alta do dólar e percepção do mercado

Na última quarta-feira (11), o Copom elevou a Selic, a taxa básica de juros, em 1 ponto percentual, de 11,25% para 12,25% ao ano. Além disso, voltou a indicar que em suas próximas duas reuniões, que acontecem nos primeiros meses de 2025, outras altas de mesma magnitude devem acontecer. Isso deve levar a taxa Selic a um patamar de 14,25% ao ano.

Na ata do Copom, o BC justificou o aumento da Selic e a previsão de novas altas com base na disparada do dólar nas últimas semanas e na percepção negativa do mercado sobre o pacote econômico proposto pelo governo, enviado ao Congresso no fim de novembro.

Segundo o blog do Valdo Cruz, para evitar uma desidratação das medidas propostas e garantir a aprovação do pacote, o governo prepara mais R$ 800 milhões de emendas parlamentares para serem liberadas nesta reta de final de ano, além dos R$ 7,6 bilhões já empenhados para deputados e senadores até esta segunda.

Dólar

Na segunda-feira, a moeda norte-americana subiu 0,99%, cotada a R$ 6,0942, em um novo recorde nominal (que é o valor da moeda sem ajuste pela inflação). Na máxima, chegou a R$ 6,0980.

- Ganhos de 0,99% na semana;

- Alta de 1,56% no mês;

- Avanço de 25,59% no ano.

Ibovespa

No mesmo horário, o Ibovespa subia 0,09%, aos 123.673 pontos. Na véspera, o índice caiu 0,84%, aos 123.560 ponto.

Com o resultado, acumulou:

- Queda de 0,84% na semana;

- Perda de 1,68% no mês;

- Recuo de 7,92% no ano.

O que está mexendo com os mercados?

Para tentar conter o forte avanço do dólar, o BC voltou a intervir na taxa de câmbio com a realização de mais um leilão de venda à vista da moeda americana. O BC vendeu US$ 1,272 bilhão, com uma taxa de câmbio de R$ 6,1005.

O BC também divulgou a ata do Copom e mostrou que deve continuar elevando a taxa Selic para conter o avanço da inflação no Brasil — muito influenciada pelo dólar.

"Lembrou-se que o repasse do câmbio para os preços aumenta quando a demanda está mais forte, as expectativas (de inflação) estão desancoradas (acima das metas) ou o movimento cambial é considerado mais persistente. Desse modo, o Comitê deve acompanhar de forma mais detida como se dará a transmissão da taxa de câmbio e das condições financeiras para preços e atividade", avaliou o Banco Central.

Sobre a proposta de pacote fiscal anunciada pelo governo, que gerou tensão no mercado financeiro, o BC avaliou que a "percepção dos agentes econômicos afetou, de forma relevante, os preços de ativos, assim como as expectativas especialmente o prêmio de risco, as expectativas de inflação e a taxa de câmbio".

"De fato, as expectativas de inflação, medidas por diferentes instrumentos e obtidas de diferentes grupos de agentes, elevaram-se em todos os prazos [após a divulgação do pacote], indicando 'desancoragem' adicional. Nota-se que tanto o prêmio de inflação extraído dos instrumentos financeiros quanto as expectativas de inflação se elevaram no período, tornando o cenário de inflação mais adverso e requerendo uma política monetária mais contracionista [alta maior dos juros]", informou o BC.

Encontro de Haddad com Lula em hospital

E o quadro fiscal do país permanece no radar dos investidores. Nesta segunda-feira, o destaque ficou com a visita do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, ao presidente Lula, que recebeu alta hospitalar no domingo (15), após ter feito uma cirurgia de emergência para drenar um hematoma na cabeça.

Durante o encontro, Haddad disse que comentou sobre a reforma tributária e o pacote de cortes de gastos enviado ao Congresso com o presidente, afirmando que o apelo do presidente é para que as medidas não sejam desidratadas pelos parlamentares. "O presidente disse ontem que ninguém se preocupa mais com a questão fiscal quanto ele. Por isso, o apelo que ele está fazendo é para que as medidas não sejam desidratadas", afirmou o ministro.

"Temos um conjunto de medidas que garante a robustez do arcabouço fiscal e para garantir que vamos continuar cumprindo com as metas nos próximos anos", acrescentou.

Uma das principais medidas do pacote de corte de gastos do governo é criar uma trava para limitar o aumento do salário mínimo.

Haddad afirmou, ainda, que o presidente também se mostrou preocupado com as alterações feitas no texto da reforma tributária que passou no Senado na última quinta-feira.

"Discutimos com ele alguns detalhes que o preocupavam, como a questão das armas [...] e também a questão das bebidas açucaradas, em função da saúde pública", afirmou Haddad.

Na semana passada, ao votar as regras da reforma tributária, o Senado decidiu que a venda de armas não terá o "imposto do pecado", uma dupla tributação que será aplicada sobre bens e serviços considerados prejudiciais à saúde ou ao meio ambiente, como cigarros, bebidas alcoólicas e apostas.

Segundo o ministro, todos os detalhes do que foi alterado na reforma foram discutidos com o presidente, para que ele pudesse "julgar a conveniência de eventualmente orientar os líderes da base"."O que se espera é que a reforma tributária seja sancionada este ano, com eventuais conciliações entre o Senado e a Câmara em torno da alteração das questões das armas e dos produtos", disse Haddad.

Fonte: G1