Produtores em MT estimam quebra na receita de quase 50%
Medidas de socorro anunciadas pelo governo federal não são suficientes para conter crise, afirma Aprosoja-MT
A quebra na receita
esperada na safra 2023/24 para honrar os compromissos chega a cerca de 50% em
Mato Grosso. É o que estimam alguns produtores, diante dos resultados observado
nas lavouras causados pelas adversidades climáticas.
Recente
pesquisa realizada em Mato Grosso mostra que 87,2% dos produtores de soja não
irão conseguir cobrir o custo total da safra 2023/24. O levantamento foi
realizado pelo Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), em
parceria com a Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso
(Aprosoja-MT).
Produtor em
Paranatinga, Vanderlei José Kochan está na reta final da colheita dos 1,5 mil
hectares cultivados com soja nesta temporada. Segundo ele, a esperança de obter
um resultado melhor que no ciclo 2022/23 foi frustrada, comprometendo a sua
rentabilidade e o deixando sem perspectivas de conseguir honrar os
compromissos.
O produtor da
região sudeste do estado conta que, após as perdas com a seca, a chuva
descontrolada no final da safra, variando entre 450 e 500 milímetros, elevou
ainda mais as suas preocupações.
“Hoje eu
acredito que se fechar em 20 sacas [por hectare] é muito. Antes das chuvas, só
com as perdas para a seca, nós já contabilizamos 25 sacas. Dia 30 de abril em
diante tem muita conta para pagar e agora tem que ver o que colheu e o que dá
para pagar. Tentar renegociar e trocar o barco”.
Vanderlei
comenta, à reportagem do Canal Rural Mato Grosso, que sua dívida somente com o
custeio está “na casa dos seus R$ 4 milhões”, além de mais R$ 5 milhões a R$ 6
milhões em investimentos em financiamento de maquinários. Em uma matemática
rápida, entre o que há para pagar e a rentabilidade na safra, ele afirma que a
conta “não fecha e eu acredito que aqui vai ficar deficitário de 30% a 40% para
pagar“.
Socorro federal insuficiente
Assim como o produtor de Paranatinga, muitos agricultores enfrentam situação
semelhante em Mato Grosso, de acordo com a Aprosoja. A entidade afirma, ainda,
que as medidas de socorro anunciadas no final de março pelo governo federal são
insuficientes para resolver o problema.
O presidente da
Aprosoja-MT, Lucas Costa Beber, pontua que no estado há muitos casos em que a
média de produtividade deverá fechar em 10, 20 sacas por hectare. “Esses
produtores não vão conseguir cumprir nem os contratos de venda de soja para
garantir o custo básico da lavoura, que seria com sementes, químicos e
fertilizantes”.
Ao Canal Rural
Mato Grosso, ele lembra que no início do ano a entidade solicitou auxílio do
governo federal com US$ 1,5 bilhão a juros de 5,5% ao ano, com um ano de
carência e cinco anos para pagar, além de uma linha de crédito de R$ 1,05
bilhão com juros de 7%, um ano de carência e sete anos para pagar.
“Ou seja,
colocaria no mercado mais de R$ 40 bilhões para que os produtores pudessem
acessar esses recursos justamente e a não termos esse problema na cadeia e até
evitar ondas de recuperações judiciais”.
Ainda conforme
o presidente da Aprosoja-MT, sabe-se que para o custeio cerca de 95% dos
recursos são oriundos do setor privado e que diante disso “o que o governo
anunciou não vai beneficiar praticamente em nada perto do rombo que essa crise
está causando no bolso do produtor”.
No que tange a pesquisa
realizada, que apontou que 87,2% dos produtores no estado não irão conseguir
cobrir o custo total da safra de soja 2023/24, Lucas frisa ser preocupante ver
que tal percentual de produtores está no “vermelho” este ano.
O presidente da
Associação considera a pesquisa importante e de grande peso, pois ela
corresponde a mais de 20% da área de soja produzida no estado.
“Dentro da
pesquisa se descobriu que apenas 13% tiveram a produtividade maior do que o
custo de produção, ou seja, 87% estão no vermelho este ano e mais do que nunca
seria necessário um socorro por parte do governo digno, que realmente trouxesse
ajuda para esse produtor. Nós precisaríamos que o Ministério da Agricultura
intervisse junto com as tradings, com as compradoras, para trazer uma
renegociação mais digna para esses produtores, sabendo que hoje todo o risco da
atividade rural fica nas mãos do produtor e na hora de renegociar ele fica
sujeito às cláusulas leoninas que devastam com todo o bom histórico que o
produtor teve”.
A pesquisa
realizada pelo Imea, em parceria com a Aprosoja-MT, revelou ainda que a
produtividade média das áreas levantadas foi de 51,8 sacas por hectare, 20,2%
menor que o verificado na última temporada, que ficou em 64,9 sacas por
hectare. O levantamento alcançou 99 dos 142 municípios de Mato Grosso.
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