Os diferentes pontos de vista de uma calamidade
OPINIÃO
O
artigo de hoje é uma reflexão que tenho feito sobre a atual e triste situação
que tem vivido a população do Rio Grande do Sul. Temos que olhar sob o ponto de
vista dos três lados envolvidos: as pessoas que estão vivendo este caos de
perto, os moradores da região; as pessoas que estão de fora, mas estão sendo
impactadas pelas notícias; e os gestores públicos, que estão tendo que se
adaptar a uma situação de calamidade.
Começando
a pensar nas pessoas que estão dentro desse cenário. Realmente ninguém está
preparado para uma situação dessa, de perda, de desespero, um absoluto vazio.
Sabe aquelas situações que a gente só vê em filme? Então, imagina estar dentro
delas, saber que nada do que você viveu voltará tão cedo! Afinal, o nosso mundo
gira em torno do local onde moramos, do que temos e de como as coisas
acontecem. O sentimento é que o mundo acabou.
É
nesse cenário de caos total que podemos observar como cada ser humano age em
relação aos seus pares. Como o outro enxerga as pessoas que também estão
passando pela mesma condição? Como é me comportar nesse contexto de angústia,
de agonia, de medo? O primeiro pensamento, provavelmente, é: como posso ajudar
o outro que também está no mesmo caos que eu?
No
meio de tantos questionamentos, colocamos à prova o que é ser humano e a noção
de sociedade que nos une. Independente da situação, não deixamos de ser seres
humanos, e há muitas maneiras de ajudar, seja dando o apoio a alguém, ajudando
a carregar uma sacola, ou ajudando a salvar vidas. Quando queremos fazer o bem,
somos o melhor no que fazemos.
Mas
aí a gente vê o outro lado do ser humano que não tem “humanidade” nenhuma. As
circunstâncias de saques, violência, estupros, roubos, ou seja, pessoas usando
do caos para tirar vantagem para si. O que dizer de um morador que está vivendo
dentro da casa alagada com medo dos furtos? Infelizmente temos observado que é
desoladora a maldade humana, que também tem “conhecimento” para fazer com que
uma situação de desespero fique ainda pior.
Também
têm aqueles que estão olhando de fora, como observadores. Em muitos, o
sofrimento chega, afeta e traz medo às pessoas que não estão vivenciado de
perto o caos. Quem é humano sabe que eu não preciso estar lá para também sentir
essa dor pelo outro. Ficamos tentando imaginar o que seria se acontecesse com a
gente. Oramos e pedimos proteção e benção a todos.
E
da mesma maneira que existem dois tipos de humanos vivenciando a calamidade,
também há dois tipos de humanos que estão do lado de fora do caos. Tem aqueles
observadores que querem, e podem, ajudar! É nessa caridade que vemos o puro
amor de Cristo, o dar sem receber nada em troca, o doar de si para o outro.
Cito como exemplo a campanha de A igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos
Dias, que vem mobilizando doações de todo o mundo. Tem também as igrejas que
não estão inundadas e que estão acolhendo milhares de pessoas.
Mas
também têm aqueles que usam do caos para se autopromover, tirar fotos, fazer
marketing social corporativo, enfim, tirar proveito da situação para “ganhar”
visibilidade. É o que eu sempre falo, a bruxa não diz que é bruxa, e o mesmo
vale aqui. As pessoas que estão trabalhando, ajudando de fato, não tem tempo
para ficar se autopromovendo, elas estão “correndo” e cansadas.
E
também entra nesse cenário a atuação política e o despreparo total. Mesmo
estando “dentro” do caos, os políticos não podem esquecer do seu papel de
representantes das necessidades dos cidadãos. Nenhuma situação pode ser maior
que esse compromisso, e pouco interessa o que se tem ou não na mão, os
políticos devem fazer tudo que podem diante da situação. Eu mesma não ouvi
nenhuma história de um vereador aguerrido, de um político que arregaçou as
mangas. As histórias que ouvi foram de voluntários.
Ao
que me parece, até temos uma estrutura, mas que não está preparada para um
contexto desses. Basta observar a atuação da Defesa Civil, que sempre me
pareceu uma estrutura sólida, posta a ajudar. No entanto, vimos uma Defesa
Civil superfrágil, com funcionários alocados, ou seja, emprestados de outros
setores. No caos, assistimos alguns correndo e tentando ajudar como podem. Quem
sabe tudo isso mostre a necessidade da criação de uma lei para que haja
concursos para área, cargos efetivos voltados para profissionais capacitados
para tal situação.
E
a lei, que ao invés de favorecer estava dificultando que vidas fossem salvas!
Os aviões particulares pequenos não podem transportar medicamentos segundo a
legislação, mas essa é uma situação em que muitas pessoas estavam padecendo
pela falta de remédios. Olha que ironia, a própria lei estava dificultando a
proteção. O ser humano deve ser mais importante que a lei. Todos nós temos que
repensar isso, afinal, muitos governantes estão mais preocupados em quem deve
receber o título de cidadão ou quem deve receber a moção de repúdio.
Sabe
o que todo esse caos nos mostra? É que sempre existirão diversos tipos de
pessoas, de diferentes perfis, independente da situação. Cabe a cada um
aprender com circunstância e isso vale, principalmente, para os políticos. O
meu comportamento como agente político deve ser como o de um líder, e acredito
que o caos mostrou que os voluntários são o exemplo, ou seja, tem muita gente
no lugar errado fazendo o trabalho errado.
Sonia
Mazetto - Gestora de Potencial Humano, Terapeuta Integrativa, Fonoaudióloga e
Palestrante
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