A nano é agro: tecnologia é promessa de sustentabilidade e rentabilidade
Nanotecnologia e agronegócio
UFMT desponta com desenvolvimento de nanossistemas que impactam a produção
Utilizada em muitas áreas e
promessa para tantas outras, a nanotecnologia tem ganhado cada vez mais espaço
na agricultura no Brasil, e não poderia ser diferente em Mato Grosso, estado
conhecido como o celeiro do país. Atualmente, a tecnologia tem sido aplicada em
pesquisas e produtos que visem reduzir o uso de defensivos, aumentar a
eficiência dos fertilizantes, melhorar a produtividade, minimizar o desperdício
e as perdas de alimentos frescos.
Um dos exemplos do uso de nanopartículas na
agricultura é a sua capacidade de aprimorar a absorção de nutrientes pelas
plantas, resultando em alimentos de melhor qualidade e maior produtividade. A
tecnologia ainda pode contribuir para a redução dos custos de produção na
agricultura com a aplicação de nanopartículas em sementes, por exemplo,
diminuindo a necessidade de fertilizantes e defensivos.
Em
resposta a essa demanda de desenvolvimento de tecnologias que atendam ao
agronegócio, a Universidade Federal de Mato Grosso Campus Sinop (UFMT) possui,
desde 2017, grupos de pesquisa envolvendo nanotecnologia agrícola, entre eles o
Grupo de pesquisa Sistemas Nanoestruturados Aplicados à Terapêutica, Cosmética
e Ciências Ambientais (Nanofar) e o Grupo Diagnose e Controle de Doenças de
Plantas.
A
Universidade de Sinop tem desenvolvido nanossistemas com produtos utilizados no
controle de pragas, doenças e plantas daninhas. A tecnologia, adicionada a
produtos já utilizados pelos agricultores, deixa a plantação mais potente, com
a necessidade de menores doses de aplicação, tudo mantendo a produtividade.
Segundo os pesquisadores, esse resultado é alcançado se comparado com produtos
convencionais amplamente utilizados hoje no estado.
“Os
trabalhos demonstram que os nanossistemas aumentam a bioeficácia dos
agroquímicos, como fungicidas, herbicidas, inseticidas, fertilizantes,
protegendo contra a degradação das moléculas e permitindo a liberação
controlada dos ingredientes ativos. Desse modo, há uma redução na quantidade
total de defensivos necessários para o controle de pragas e doenças e, como
consequência, uma manutenção da saúde da microbiota do solo e das plantas”,
aponta a Professora da UFMT e membro do Grupo Diagnose, Solange Maria Bonaldo.
A Coordenadora do Laboratório de
Sementes da Solum Laboratório, a Engenheira Agrônoma Izabela Ruis da Costa,
destaca que a nanotecnologia pode trazer diversos benefícios, entre eles a
sustentabilidade. “A nano impacta diretamente no ambiental e social. Com o uso
da tecnologia há uma redução de produtos químicos, minimizando os possíveis
impactos ambientes e também à saúde humana”, destaca.
O uso da nano na cultura da soja
e milho
O município de Sinop (MT) é
conhecido como a capital do nortão, por possuir ampla representatividade na
economia de Mato Grosso. O carro-chefe de Sinop é a soja, com 82% de
participação de participação na economia, seguida pelo milho, com 15%, conforme
indicadores da Prefeitura de Sinop. Entendendo a demanda na região, a UFMT tem
trabalhado com nanossistemas que contemplam essas culturas.
Uma das principais vantagens do nanossistema
desenvolvido pela universidade é que ele pode ser utilizado em mistura física
com produtos comerciais disponíveis, facilitando a sua aplicabilidade. “Em
nossos estudos, inclusive, observamos que a associação de fungicida protetor e
o nanossistema proporcionou 64,24% de controle de Mancha alvo (Corynespora
cassiicola) na cultura da soja, que é uma das principais doenças da soja na
nossa região. Em relação à produtividade, o tratamento que usa o nanossistema
proporcionou melhores resultados quando comparado com tratamentos
convencionais”, afirma a Professora da UFMT e membro do Grupo Nanofar, Stela
Regina Ferrarini.
Outra resposta positiva do nanossistema
desenvolvido está relacionada à sanidade das sementes de soja. Durante os
estudos, foi possível observar que o uso da nanoemulsão isolada (sem misturar
com outros ativos ou produtos já comercializados) diminuiu a incidência de
patógenos nas sementes, superando o tratamento convencional utilizado
atualmente. Como resultado, obtém-se sementes mais sadias, há uma redução no
uso de defensivos e auxilia na conservação dos produtos no armazenamento nos
silos, garantindo a qualidade dos grãos.
Na produção do milho, a utilização do nanossistema
foi capaz de melhorar a performance do manejo de fungicidas no controle
da Bipolaris maydis, patógeno que causa manchas foliares, reduz a
fotossíntese e leva a perdas consideráveis de produção na cultura. “Nas últimas
safras essa doença vem preocupando os produtores do estado, uma vez que são
poucos os fungicidas registrados no Ministério da Agricultura e
Pecuária (MAPA) para controle da doença. O nosso nanossistema, além de
contribuir na redução da severidade do fungo, ainda aumenta a produtividade”,
destaca a Pesquisadora Solange.
A Engenheira Agrônoma Izabela acrescenta que pesquisas que trazem tecnologias como essas, são de extrema importância em um estado com grande importância na produção de soja e milho, uma vez que esses avanços podem consolidar ainda mais a posição de Mato Grosso como um líder agrícola, aumentando a competitividade e sustentabilidade da produção agrícola.
Os benefícios e desafios da nano
no agro
A aplicação da nanotecnologia na agricultura
desempenha um papel crucial na tomada de decisões em prol da produção, do
ambiente e da sociedade. Segundo o Superintendente do Instituto Mato-grossense
de Economia Agropecuária (Imea), o Engenheiro Agrônomo Cleiton Gauer, essa
tecnologia pode ser o caminho para auxiliar o agronegócio.
“Acredito que a nanotecnologia servirá de apoio no
controle de pragas com produtos mais específicos, que consigam ser cada vez
mais eficientes e assertivos, atuando somente nas pragas e não atingindo o
ecossistema da produção. A tecnologia também pode auxiliar na redução de
custos, produzindo produtos melhores, mais eficientes, mais baratos, que tendem
a levar uma ampliação dos trabalhos ao campo”, afirma.
Muitos caminhos precisam ser percorridos e a nanotecnologia pode ser a resposta para a manutenção da qualidade dos grãos e na sustentabilidade dos sistemas agrícolas. Observa-se, por exemplo, que os atuais fungicidas registrados para a cultura da soja não têm sido eficientes, levando aos produtores a aumentarem o número de aplicações ou misturarem defensivos. Outro ponto é a inexistência de cultivares com resistência total para diversas doenças, como ferrugem asiática da soja e podridão de grãos na cultura da soja e milho, o que provoca perdas consideráveis no campo.
No entanto, apesar do potencial revolucionário da
nanotecnologia na agricultura, ainda existem desafios a serem superados para a
tornar mais acessível. O custo associado à pesquisa e desenvolvimento de novos
materiais e tecnologias é uma das principais barreiras. Além disso, a aplicação
prática de algumas técnicas de nanotecnologia pode ser complexa e exigir
equipamentos caros e expertise especializada.
Segundo as Pesquisadoras Stela e Solange, ainda
faltam investimentos para a produção em larga escala dos nanossistemas, e o
atual trabalho dos grupos de pesquisa da UFMT de Sinop tem sido buscar empresas
para a transferência da tecnologia. “O objetivo é que os nanossistemas possam
ser usados por qualquer produtor, independente do porte econômico, que poderá
ser beneficiado por produtos com esta tecnologia biodegradável, biocompatível e
de ampla aplicação”, destaca a Pesquisadora Stela. As empresas
interessadas pela tecnologia, podem entrar em contato com o Escritório de
Inovação Tecnológica (EIT) da Universidade.
Atrelada a
isso, ainda há o desafio de capacitar os agricultores e técnicos agrícolas para
o uso eficaz da nanotecnologia, o que exige o desenvolvimento de programas de
capacitação e treinamento para garantir que a tecnologia seja aplicada de
maneira segura e eficiente no campo.
O que é
nanotecnologia?
A nanotecnologia é a habilidade de manipular a
matéria em nanoescala, o equivalente a 1 bilionésimo do metro. Para se ter uma
ideia, a Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) fez um
comparativo: um nanômetro equivale a 1 (um) bilionésimo do metro,
exemplificando um fio de cabelo tem entre 80 mil e 100 mil nanômetros, seria o
mesmo que comparar o planeta Terra com uma laranja.
Você deve
estar se perguntando, mas porque manipular a matéria em uma escala tão
microscópica? Pois é aí que a “mágica” acontece! Ao se manipular a estrutura
molecular dos materiais, as suas propriedades físicas (como condutividade
elétrica, reatividade, ponto de fusão e óptica), químicas e biológicas se
diferenciam de quando se encontram em maiores dimensões.
Por isso, a
nanotecnologia possibilita o desenvolvimento de estruturas com vastos
potenciais de aplicações revolucionárias, e um material que teria finito
proveito, passa a ter inúmeros outros.
Por Adriele
Rodrigues - DRT/MT 2114
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